Pessoal, não sou fotógrafo
profissional, e minha
câmera é super-amadora! Então não reparem na qualidade das fotos, principalmente no caso dos desenhos. O grafite acaba
refletindo demais a luz e os desenhos ficam muito claros.
Eu fiquei na dúvida sobre como publicar meus trabalhos, se tematicamente, cronologicamente, por material etc. Acho que por enquanto uma
ideia legal é mostrar o desenvolvimento do meu trabalho em ordem cronológica, para que os leitores do blog possam ter uma
ideia do caminho que eu venho percorrendo nestes anos.
Eu sempre fui uma criança que desenhava muito, e que que tinha muito prazer naquilo. Minha família sempre me estimulou e me deu apoio para produzir e estudar arte. Mas claro, como qualquer artista, eu nunca fui muito normal,
né? Com 5 ou 6 anos meus pais me colocaram na psicóloga. No começo eu odiei, porque não entendia por que eu tinha que ir para psicóloga e meus irmãos não, o que me tornava motivo de chacota constante em casa - criança pode ser bem cruel! Mas com o tempo eu comecei a gostar muito daquilo. Eu tinha que falar muito pouco e passava o resto do tempo desenhando e jogando. O resultado foi que, por volta dessa época, eu ganhei o terceiro lugar num concurso infantil de desenho, e descolei uma viagem para a "Cabana dos
Pirineus". Até hoje tenho o desenho, "
Sapa com uma coroa de estrelas". É, realmente, eu não era uma criança normal...
heheheAlgum tempo depois entrei numa "
escolinha de criatividade", e com nove anos ingressei no Atelier José Guilherme Costa Manso, ex-repórter da Veja que estudou arte em Paris e decidiu largar tudo para virar artista. Algum tempo depois de investir na carreira artística, ele resolveu abrir um atelier, em Brasília, para transmitir o que aprendeu. Lá eu aprendi as bases de muitas das habilidades que eu iria desenvolver futuramente, mas a maior qualidade do Atelier era desenvolver o ensino com base na observação e cópia de
objetos e naturezas-mortas, proposta rara nos
ateliês de Brasília. Claro, não eram feitas grandes exigências em termos de
correspondência entre o desenho/pintura e os
objetos, mas praticar a observação desde o princípio é um hábito muito saudável no treinamento de qualquer artista. José Guilherme também havia trazido diversos livros de arte de Paris e deixava-os à disposição dos alunos para consulta (numa época em que quase não haviam livros de arte importados no Brasil, e a
Taschen era rainha absoluta nesse segmento). Foi assim que eu entrei em
contato com a obra de artistas como
Ingres,
Velázquez,
Cabanel e até mesmo
Bouguereau, cuja pintura "Ninfas e
Sátiro" estava reproduzida em preto-e-branco num livro francês sobre o nu, e a qual eu acreditava piamente ser uma fotografia!
Permaneci no
Ateliê até por volta dos meus 14/15 anos. Eu ia ingressar no Ensino Médio e sentia que já havia aprendido ali tudo o que podia absorver, além do que já estava meio que cheio da pressão do meu professor para ser menos "clássico"
hehehehe. Foram
ótimos anos em que eu tive
contato com diversas pessoas extremamente inteligentes e talentosas.
Por essa época foi criado (e eu dei a sorte de descobri-lo) o
Art Renewal Center, uma fundação americana que promovia a volta a valores e a práticas de ensino clássicos da arte. No site deles (
http://www.artrenewal.org/ ) foi criado um museu virtual com milhares de imagens de pinturas do século XIX e
dezenas de excelentes artigos, me interessando principalmente aqueles que lançavam uma luz sobre a verdadeira história da arte no século XIX, bem diferente do que os manuais costumam descrever.
O
ARC batia repetidamente na tecla da eficácia e importância do desenho de observação e na cópia das obras clássicas. Eu resolvi pular no barco e tomar as rédeas da minha própria educação, nem que fosse aos
trancos e
barrancos.
Minha sorte é que eu costumava passar parte das minhas férias em Juiz de Fora -
MG, casa do excelente museu Mariano
Procópio. A
coleção de obras do século XIX do museu é fenomenal, e realmente me deixava com o coração pulsando quando eu atravessava aqueles seus salões. O desenho acima eu fiz
in loco, e é a fachada do museu. Abaixo tem uma foto de 2005 da fachada, com as estátuas de bronze que foram colocadas posteriormente ao meu desenho.
Resolvi seguir adiante e copiei a escultura abaixo, que adorna os jardins do museu. É uma cópia em mármore de um original grego. Não sei o nome da escultura, mas se alguém souber, por favor, me avise. Nessa época eu já conhecia alguns desenhos de
Ingres, e sabia da importância que ele atribuía às linhas (diz
Degas que um I
ngres idoso aconselhou-o a desenhar "muitas linhas"). Portanto, priorizei as linhas.
O bom de escrever um blog é que a gente acaba descobrindo coisas sobre nós que não sabíamos. Eu não me lembrava de haver produzido a maior parte dos desenhos que eu estou publicando neste
post. E de alguns deles até que estou me orgulhando
rs.
O desenho acima é a cópia de um busto de bronze de d.
Tereza Christina, Imperatriz do Brasil. Acho que os funcionários do museu acharam meio bizarro um adolescente pedir uma cadeira emprestada para ficar copiando as coisas que tem no museu, mas foram incrivelmente
hospitaleiros e eu acabei até fazendo um retrato (que pretensão!) de uma
monitora chamada
Bernardette, que era muito simpática e me cedeu a cadeira dela.
No desenho acima podemos perceber a preocupação com as linhas. A inspiração era Roma, mas o desenho ficou tão sinuoso que chega a ser engraçado.
Abaixo está um grande orgulho meu. Esse
desenho é de 2003. Como os outros desenhos acima, (fora a Virgem Vestal), ele foi
realizado sobre uma folha de papel A3. Seu nome é "A Coroação da Imperatriz do México". Ele na verdade é uma versão invertida da "Coroação da Imperatriz Josefina" de David - não que eu tivesse me inspirado conscientemente, na época-, mas, fora isso (e a imagem do bispo, que eu copiei em parte de uma pintura inglesa), o resto foi feito de cabeça, e eu fico
admirado principalmente com a noção de perspectiva e de espaço dos grupos que eu tinha, superior à que eu tenho hoje! Também gosto muito da composição.
Depois eu descobri que os imperadores do México nunca foram coroados, apesar de terem sido feitos preparativos para a
cerimônia. De qualquer forma, considero essa a minha primeira tentativa bem sucedida em pintura histórica. Estudei a
indumentária e tentei me esmerar nas fisionomias. Acho que foi uma tentativa valorosa!